terça-feira, 6 de março de 2012

NOSSA PRECIOSA ESPERANÇA – Parte 3


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Esse material é um estudo dividido em três partes. No final de cada parte você encontrará um link para o estudo seguinte. Não deixe de ler as três partes.

B. Grego

ἐλπίς, ἐλπίζω  – elpís, elpízo – esperança, ter esperança.

1. Os termos gregos seja em forma de substantivo ἐλπίς elpís – esperança, seja em forma de verbo ἐλπίζω elpízo – ter esperança, quando usados pelos escritores do Novo Testamento, têm seu significado condicionado e determinado pela compreensão que existia nos dias do Antigo Testamento.

O verbo ἐλπίζω elpízo – ter esperança é usado no sentido de uma esperança associada a uma expectativa de concretização do esperado. Exemplo deste tipo de uso pode ser visto em:

  • Lucas 6:34 –E, se emprestais àqueles de quem esperais receber, qual é a vossa recompensa? Também os pecadores emprestam aos pecadores, para receberem outro tanto”.

  • Ver também 1 Coríntios 9:10 -  2 Coríntios 8:5 e 1 Timóteo 3:14 e Atos 16:19.

  • O conceito de esperar no sentido de aguardar algum acontecimento pode ser visto de maneira mais clara em:

  • Lucas 23:8 – “Herodes, vendo a Jesus, sobremaneira se alegrou, pois havia muito queria vê-lo, por ter ouvido falar a seu respeito; esperava também vê-lo fazer algum sinal”. De forma semelhante este uso ocorre também em Atos 24:26 e 27:20.

  • Paulo usa esta expressão de forma freqüente neste sentido, como pode ser visto em Romanos 15:26; 1 Coríntios 16:7; Filipenses 2:19 E 23; Filemon 22.

O uso de ἐλπίζω elpízo – ter esperança, com referência a seres humanos pode ser visto em:

  • 2 Coríntios 1:13 – “Porque nenhuma outra coisa vos escrevemos, além das que ledes e bem compreendeis; e espero que o compreendereis de todo”. Mesmo tipo de uso existe em 2 Coríntios 5:11 e 13:6. Paulo esperava firmemente no fato de que os Coríntios, uma vez tendo sido participantes nos sofrimento também o seriam das consolações – ver 2 Coríntios 1:7.

A esperança, da mesma forma como o amor e a fé em 1 Coríntios 13, não se refere a um sentimento e sim a uma decisão que afeta nossos relacionamentos com Deus e com as outras pessoas. Que a esperança caracteriza uma atitude e não um sentimento pode ser claramente visto em 1 Coríntios 13:7 onde lemos: “(o amor) tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”. O uso dos quatro verbos “sofrer, crer, esperar e suportar” no contexto do amor, são uma indicação de que se trata de uma mesma atitude, e não um sentimento, manifestada de quatro formas distintas!

2. A esperança quando fixada em Deus engloba estes três aspectos: expectativa acerca do futuro, confiança e paciência. Qualquer um destes três aspectos pode ser enfatizado. A definição de fé como a certeza das coisas que se esperam, como encontramos em Hebreus 11:1, segue a mesma compreensão que existe em Salmos 78:22. A esperança bíblica possui Deus como seu objeto e confia exclusivamente n’Ele para alcançar o futuro esperado. A esperança em Deus exclui a possibilidade de se esperar em fatos que possam ser controlados por aquele que espera. Este é o motivo porque os autores bíblicos insistem na fórmula: espera no SENHOR. O Salmo 37 é bastante relevante neste contexto:

  • Verso 7 - Descansa no SENHOR e espera nele, não te irrites por causa do homem que prospera em seu caminho, por causa do que leva a cabo os seus maus desígnios.

  • Verso 8 - Deixa a ira, abandona o furor; não te impacientes; certamente, isso acabará mal.

  • Verso 9 - Porque os malfeitores serão exterminados, mas os que esperam no SENHOR possuirão a terra.

  • Verso 10 - Mais um pouco de tempo, e já não existirá o ímpio; procurarás o seu lugar e não o acharás.

Este mesmo aspecto, de confiar exclusivamente em Deus, independente de quão graves e incontroláveis seja as circunstâncias, ao mesmo tempo em que se exercita paciência no passar do tempo, pode também ser encontrado nos escritos do apóstolo Paulo quando ele diz: “Porque, na esperança, fomos salvos. Ora, esperança que se vê não é esperança; pois o que alguém vê, como o espera? – Romanos 8:24”. Este é certamente o motivo porque Paulo preferia muito mais prestar atenção nas coisas que não se vêem i.e. nas coisas que são eternas do que nas coisas que se vêem e que são temporárias – ver 2 Coríntios 4:18. O próprio apóstolo expressa e ilustra esta atitude, de esperar sem evidência externa aparente, de forma magistral em Romanos 4:18 onde lemos: “Abraão, esperando contra a esperança, creu, para vir a ser pai de muitas nações, segundo lhe fora dito: Assim será a tua descendência”.

  • Como descrito acima o termo ἐλπίζωelpízo – ter esperança, possui elementos de certeza absoluta como pode ser visto nos versículos a seguir:

  • Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens – 1 Coríntios 15:19.

  • O qual nos livrou e livrará de tão grande morte; em quem temos esperado que ainda continuará a livrar-nos – 2 Coríntios 1:10.

  • Tendo, pois, tal esperança, servimo-nos de muita ousadia no falar – 2 Coríntios 312.

  • Segundo a minha ardente expectativa e esperança de que em nada serei envergonhado; antes, com toda a ousadia, como sempre, também agora, será Cristo engrandecido no meu corpo, quer pela vida, quer pela morte – Filipenses 1:20.

  • Cristo, porém, como Filho, em sua casa; a qual casa somos nós, se guardarmos firme, até ao fim, a ousadia e a exultação da esperança – Hebreus 3:6.

  • ... que, por meio dele, tendes fé em Deus, o qual o ressuscitou dentre os mortos e lhe deu glória, de sorte que a vossa fé e esperança estejam em Deus – 1 Pedro 1:21.

Por semelhante modo, ao usar a palavra ἐλπίζω elpízo – ter esperança, os autores colocaram a ênfase em esperar com paciência como pode ser visto em:

  • E não somente isto, mas também nos gloriamos nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz perseverança; a perseverança, experiência; e a experiência, esperança. Ora, a esperança não confunde, porque o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado – Romanos 5:3 – 5.

  • Pois tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança – Romanos 15:4.

  • ... recordando-nos, diante do nosso Deus e Pai, da operosidade da vossa fé, da abnegação do vosso amor e da firmeza da vossa esperança em nosso Senhor Jesus Cristo – 1 Tessalonicenses 1:3.

  • Nós, porém, que somos do dia, sejamos sóbrios, revestindo-nos da couraça da fé e do amor e tomando como capacete a esperança da salvação; porque Deus não nos destinou para a ira, mas para alcançar a salvação mediante nosso Senhor Jesus Cristo – 1 Tessalonicenses 5:8.

  • Desejamos, porém, continue cada um de vós mostrando, até ao fim, a mesma diligência para a plena certeza da esperança; para que não vos torneis indolentes, mas imitadores daqueles que, pela fé e pela longanimidade, herdam as promessas – Hebreus 6:11 - 12.

  • Guardemos firme a confissão da esperança, sem vacilar, pois quem fez a promessa é fiel – Hebreus 10:23.

Como podemos notar, a forma como os autores do Novo Testamento usaram o termo “esperança” não difere em praticamente nada do uso que encontramos no Antigo Testamento. Todavia, existe uma diferença bastante marcante no que diz respeito à situação ou condição daqueles que esperam, como pode ser visto em 2 Coríntios 3:1 – 18 onde lemos:

1 Começamos, porventura, outra vez a recomendar-nos a nós mesmos? Ou temos necessidade, como alguns, de cartas de recomendação para vós outros ou de vós?

2 Vós sois a nossa carta, escrita em nosso coração, conhecida e lida por todos os homens,

3 estando já manifestos como carta de Cristo, produzida pelo nosso ministério, escrita não com tinta, mas pelo Espírito do Deus vivente, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, isto é, nos corações.

4 E é por intermédio de Cristo que temos tal confiança em Deus;

5 não que, por nós mesmos, sejamos capazes de pensar alguma coisa, como se partisse de nós; pelo contrário, a nossa suficiência vem de Deus,

6 o qual nos habilitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata, mas o espírito vivifica.

7 E, se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, se revestiu de glória, a ponto de os filhos de Israel não poderem fitar a face de Moisés, por causa da glória do seu rosto, ainda que desvanecente,

8 como não será de maior glória o ministério do Espírito!

9 Porque, se o ministério da condenação foi glória, em muito maior proporção será glorioso o ministério da justiça.
10 Porquanto, na verdade, o que, outrora, foi glorificado, neste respeito, já não resplandece, diante da atual sobreexcelente glória.
11 Porque, se o que se desvanecia teve sua glória, muito mais glória tem o que é permanente.

12 Tendo, pois, tal esperança, servimo-nos de muita ousadia no falar.

13 E não somos como Moisés, que punha véu sobre a face, para que os filhos de Israel não atentassem na terminação do que se desvanecia.

14 Mas os sentidos deles se embotaram. Pois até ao dia de hoje, quando fazem a leitura da antiga aliança, o mesmo véu permanece, não lhes sendo revelado que, em Cristo, é removido.

15 Mas até hoje, quando é lido Moisés, o véu está posto sobre o coração deles.

16 Quando, porém, algum deles se converte ao Senhor, o véu lhe é retirado.

17 Ora, o Senhor é o Espírito; e, onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade.

18 E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito.

As expressões Πεποίθησιν - pepoíthesin – verdade, confiança e segurança – ver 2 Coríntios 3:4 - e ἐλπίδα - elpída – esperança – ver 2 Coríntios 3:12, indicam, de forma inequívoca, a confiança expectante que deveria existir entre os membros da comunidade cristã na cidade de Corinto. De fato esta confiança expectante era realmente algo experimentado pelo próprio apóstolo Paulo – ver 2 Coríntios 1:13 e 15 - e os outros apóstolos como διακόνους καινῆς διαθήκης - diakónous kaines diathekes – ministros de uma nova aliança – ver 2 Coríntios 3:6. Esta confiança expectante correspondia em todos os sentidos à ἐλευθερία - eleuthería – liberdade – ver 2 Coríntios 3:17 - da escravidão causada pela Lei e da morte decretada pela Lei. E esta liberdade é algo que os judeus, vivendo sobre a Antiga Aliança e tutelados pelos rabinos, jamais experimentaram[1].

Desta maneira a esperança cristã se apóia nos atos divinos efetuados a favor da nossa salvação. O coração da mensagem do Evangelho não tem a ver com algo que Deus requer de nós e sim com algo que Deus fez a nosso favor; algo que precisava ser feito; algo que não precisa ser feito nunca mais! – Ver 2 Coríntios 5:21.

Mas nossa esperança é, em última realidade, uma esperança escatológica, porque ainda existem inúmeras coisas que ainda estamos esperando – ver Romanos 8:24 -25.

Em função disto, ao contrário dos incrédulos que não possuem esperança – ver Efésios 2:12 -  os crentes possuem a verdadeira esperança – ver 1 Tessalonicenses 4:13. E esta esperança se estende para além desta vida e pela eternidade. De fato os crentes já estão, mesmo nesta vida, vivendo a vida eterna, pois como Jesus ensinou, a vida eterna consiste em se conhecer o único Deus verdadeiro e a Jesus a quem Ele enviou – ver João 17:3. Note o tempo presente na afirmativa de Jesus: “A vida eterna é esta”!

O cristão não espera e nem se apóia nas coisas que podem ser vistas, pois como diz o apóstolo Paulo: “... não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas. – ver 2 Coríntios 4:18.

3. A esperança - ἐλπίς - elpís, juntamente com a fé - πίστις pístis – e o amor - ἀγάπη agápe - constituem a essência da vida cristã como podemos ver nos versículos a seguir:

  • Romanos 15:13 - E o Deus da esperança vos encha de todo o gozo e paz no vosso crer, para que sejais ricos de esperança no poder do Espírito Santo.

  • Hebreus 11:6 - De fato, sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam.

  • Colossenses 3:14 - Acima de tudo isto, porém, esteja o amor, que é o vínculo da perfeição.

Escrevendo aos Tessalonicenses o apóstolo Paulo deixa claro que estas três qualidades representam, por excelência, aquilo que o cristão deve ser: ... recordando-nos, diante do nosso Deus e Pai, da operosidade da vossa fé, da abnegação do vosso amor e da firmeza da vossa esperança em nosso Senhor Jesus Cristo – 1 Tessalonicenses 1:3.

Estas são as três coisas que permanecem na vida cristã, independente das circunstâncias, de acordo com o apóstolo Paulo – ver 1 Coríntios 13:13.

Como já dissemos antes, a esperança, como o amor e a fé, é uma decisão e não um sentimento. É a decisão de esperar em Deus e Suas promessas independente das circunstâncias ao redor. O leitor deverá notar que todas as vezes que as expressões ἐλπίς - elpís - esperança, πίστιςpístis – fé e ἀγάπη agápe – amor, aprecem no Novo Testamento, as mesmas estão acompanhadas de verbos, indicando, com isto, a clara necessidade que temos de agir em vez de sentir.

A parte 001 desse estudo poderá ser acessada aqui:

http://ograndedialogo.blogspot.com/2012/03/nossa-preciosa-esperanca-parte-1.html

Que Deus abençoe a todos.

Alexandros Meimaridis

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[1]. A discussão do material acerca dos conceitos de esperança no judaísmo rabínico e no grego do Novo Testamento foi, em parte, adaptado do artigo de autoria de Rudolf Bultmann, publicado no dicionário teológico editado por Gerhard Kittel, Theologisches Wörtebuch Zum Neuen Testament, publicado por W. Kohlhammer Verlag, Stuttgart, Deutchland. 

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