terça-feira, 23 de outubro de 2012

1 PEDRO 1:22—2:10: A REFORMA PROTESTANTE DO SÉCULO XVI E A IGREJA DO SÉCULO XXI



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Uma abordagem baseada na história da reforma do século XVI e no texto bíblico de 1 Pedro 1:22—2:10.

Introdução

Dentro de alguns anos — em 2017 — iremos comemorar o 500º aniversário da Reforma do Século XVI. Com tantas mudanças que o mundo experimentou nestes últimos cinco séculos, seria o caso de nos perguntarmos: Terá ainda razão de ser o nosso movimento? Justifica-se ainda o protestantismo?

A realidade nos mostra que, passados tantos anos, as verdades fundamentais e solenes redescobertas pelos reformadores continuam sendo desprezadas, tanto fora quanto dentro do movimento evangélico. Podemos exemplificar isso com um dos grandes princípios acentuados pela Reforma: “Solo Christus” ou a plena centralidade e exclusividade de Cristo como único e suficiente Salvador, o único mediador entre Deus e a humanidade.

1 Timóteo 2:5 

Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem.

Atos 4:12  

E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos.

A igreja contra a qual se insurgiram os reformadores continua hoje, quase meio milênio mais tarde, a negar a Cristo um lugar exclusivo na fé, no culto e na devoção dos seus fiéis. Por causa da ênfase antibíblica no culto a Maria e aos santos, Jesus Cristo ocupa um lugar inteiramente secundário na vida e devoção de milhões de brasileiros que se dizem cristãos.
Quando estudamos o desenvolvimento histórico daquilo que a Igreja Católica Apostólica Romana chama de “dogmas marianos”, nós podemos perceber um processo bastante evidente que visa tornar Maria igual ao seu filho Jesus. A tabela abaixo não deixa nenhuma sombra de dúvida:


                              Ensinamentos
Relativos a Jesus
Relativos a Maria
Concepção sem mácula pelo pecado
original
       Sim
        Sim
Vida sem pecado
       Sim
        Sim
Trabalho terminado como
Redentor e Mediador
       Sim
        Sim
Subiu ao Céu com corpo glorificado
       Sim
        Sim
Fonte de vida
       Sim
        Sim
Senhor e Rei
       Sim
        Sim
Dispensador da graça de Deus
       Sim
        Sim
Alvo de orações, confiança e devoção
       Sim
        Sim


A lista acima é cristalina no que diz respeito às intenções da Igreja Católica Apostólica Romana de transformar Maria em alguém igual ao próprio Filho de Deus. A situação se agrava quando percebemos, de forma bastante descarada, que Maria ocupa um lugar, na prática do dia a dia, muito mais central na devoção dos membros da Igreja Romana do que aquele dedicado ao Filho de Deus. A Igreja Roamana, começando pelos exemplos estabelecidos pelos seus sumos pontífices, tem permitido que o culto a Maria, independente do nome atribuído a tal culto – Hiperdulia – se transforme em uma verdadeira e inconveniente “Mariolatria”, que é promovida em todos os níveis da sua instituição através das artes, das festas, das formas litúrgicas e da adoração.

Mas as antigas verdades essenciais recuperadas pelos reformadores também têm sido ignoradas dentro das igrejas evangélicas. Se os reformadores voltassem à terra hoje, ficariam chocados com certas doutrinas e práticas correntes entre os evangélicos e com a sua falta de entusiasmo pelas importantes convicções redescobertas no século 16.

Essas razões já são suficientes para justificar a atual relevância e necessidade da obra restauradora realizada pelos pioneiros da Reforma no século XVI. Um aspecto interessante desses pioneiros é o fato que eles, embora compartilhassem os mesmos princípios, tiveram diferentes experiências, que os levaram também a diferentes ênfases nos princípios que defenderam.

Gostaríamos de ilustrar três desses princípios através da experiência de três grupos reformados, tomando como ponto de partida os capítulos iniciais da primeira carta de Pedro.
Nessa carta, o apóstolo lembra aos cristãos da Ásia Menor os fatos centrais da sua fé (1:3—12) e suas implicações para a vida (1:13—17). Em seguida, ele fala sobre as conseqüências disso para a sua identidade como grupo, como povo de Deus (1:22—2.10). Vemos nessa passagem três grandes ênfases da Reforma.

1. Graça e Fé

  Martinho Lutero

O fundamento da vida cristã é o fato que somos salvos pela graça de Deus, recebida por meio da fé. Deus nos amou e por isso nos deu seu Filho; crendo nesse amor e nesse Filho, somos salvos. Essa é uma das ênfases mais importantes do capítulo inicial de 1 Pedro, especialmente nos versos 18—21, mas também em vários outros versículos. Esse ponto reúne três grandes princípios esposados pelos reformadores: “solo Christus”, “sola Gratia” e “sola Fide”. Embora não encontremos aqui uma referência explicita à justificação pela fé, como acontece nas cartas aos Romanos e aos Gálatas, a mesma está pressuposta em todo o contexto.

O reformador que teve uma experiência pessoal e profunda dessas verdades foi Martinho Lutero. Inicialmente, seu pai desejou que ele seguisse a carreira jurídica. Num dia de intensa tempestade, ao escapar por pouco da morte, fez um voto a “Santa Ana”, de que entraria para a vida religiosa se saísse ileso daquela situação. Logo depois de acalmada a tempestade, Lutero, fiel à promessa que fizera, ingressou em um mosteiro agostiniano e pôs-se a lutar pela sua salvação. Por anos buscou a mesma através de rezas e penitências, incluindo uma vista à cidade de Roma, mas sem conseguir alcançara a paz interior que tanto almejava. Isso durou até que, ao estudar a Epístola aos Romanos, deparou-se como a promessa que “o justo viverá pela fé” (Rm 1:17). Através desse texto Lutero teve uma nova visão de Deus e da salvação. Essa já não era o alvo da vida, mas o seu fundamento. Essa nova convicção o levou a questionar a teologia medieval e a iniciar o movimento da Reforma.

Isso nos mostra a importância de uma vida de fé, na plena dependência da graça de Deus, mas também de uma vida de compromisso, que se manifesta na forma de frutos que honram a Deus.


2. A Palavra de Deus


 
  João Calvino
 
A seção seguinte de 1 Pedro contém outra ênfase importante dos reformadores: a centralidade da Palavra de Deus ou “Sola Scriptura” (1:23—25). A Palavra de Deus é a mensagem que nos fala da graça de Deus e da redenção realizada por Cristo, e nos convida a crer nesse amor. Essencialmente, é o “evangelho” — verso 12 — também descrito como a “verdade” — verso 22. Essa palavra ou evangelho é viva, permanente e eficaz porque é a própria “Palavra do Senhor”.

Se o item anterior nos faz pensar em Lutero, esse nos lembra de modo especial João Calvino. Calvino não teve uma experiência dramática de conversão como Lutero. Sua experiência foi profunda, mas sem grandes lutas interiores. Ele mesmo pouco escreveu sobre o assunto, dizendo apenas que teve uma conversão repentina — chamada de conversio subita. Mas desde o início esse reformador foi tomado por uma forte convicção acerca da majestade de Deus e da importância da Sua Palavra. Calvino foi, dentre todos os reformadores, aquele que mais energias dedicou ao estudo e à exposição sistemática das Escrituras – nas Institutas, nos seus comentários bíblicos, em suas preleções e em seus sermões. Suas obras escritas são extensas e Calvino pregou um sermão em cada capítulo da Bíblia, com exceção do Livro do Apocalipse, o qual ele considerava um livro “fechado”.

Nos seus escritos, Calvino insiste na suprema autoridade das Escrituras em matéria de fé e vida cristã — Sola Scriptura. Essa autoridade decorre do fato que Deus mesmo nos fala na sua Palavra. Ele faz uma distinção interessante entre Escritura e Palavra de Deus, ao dizer que é somente através da atuação do Espírito Santo é que a Escritura é reconhecida pelo pecador como a Palavra de Deus viva e eficaz.

1 Coríntios 2:12—16

12 Não foi o espírito deste mundo que nós recebemos, mas o Espírito mandado por Deus, para que possamos entender tudo o que Deus nos tem dado.

13 Portanto, quando falamos, nós usamos palavras ensinadas pelo Espírito de Deus e não palavras ensinadas pela sabedoria humana. Assim explicamos as verdades espirituais aos que são espirituais.

14 Mas quem não tem o Espírito de Deus não pode receber os dons que vêm do Espírito e, de fato, nem mesmo pode entendê-los. Essas verdades são loucura para essa pessoa porque o sentido delas só pode ser entendido de modo espiritual.

15 A pessoa que tem o Espírito Santo pode julgar o valor de todas as coisas, porém ela mesma não pode ser julgada por ninguém.

16 Como dizem as Escrituras Sagradas: “Quem pode conhecer a mente do Senhor? Quem é capaz de lhe dar conselhos?” Mas nós pensamos como Cristo pensa — NTLH.

Esse ponto nos mostra a necessidade de obediência à Palavra do Senhor para vivermos uma vida cristã genuína e frutífera.

3. Sacerdócio Real

Menno Simons

Finalmente, Pedro fala da grande dimensão comunitária da nossa fé. Unidos a Cristo e alimentados por sua Palavra (2:2—4), somos chamados a viver como edifício de Deus e como povo de Deus (2:5, 9). Nas duas referências, os cristãos são descritos como sacerdócio: “sacerdócio santo” e “sacerdócio real”. A conclusão é óbvia: todo cristão é um sacerdote. Não existe mais a distinção entre “sacerdotes” e “não sacerdotes” ou “leigos” como existia no Antigo Testamento, mas agora todos têm acesso livre e direto à presença de Deus, por meio de Cristo. 

Hebreus 10:19—22

19 Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus,

20 pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou pelo véu, isto é, pela sua carne,

21 e tendo grande sacerdote sobre a casa de Deus,

22 aproximemo-nos, com sincero coração, em plena certeza de fé, tendo o coração purificado de má consciência e lavado o corpo com água pura.

Esse sacerdócio deve ser exercido principalmente em duas áreas: no culto e na proclamação. Todos os crentes podem e devem oferecer “sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo” — verso 5; todos os cristãos devem proclamar as virtudes daquele que o chamou das trevas para a sua maravilhosa luz — verso 9).

Os que conhecem alguma coisa sobre a Reforma reconhecem facilmente aqui o princípio do “sacerdócio universal dos crentes”. Um grupo reformado que ilustra muito bem essa verdade são os menonitas. Todos os protestantes valorizaram o sacerdócio universal dos crentes, mas essa realidade foi especialmente importante para esse grupo que dura até os dias de hoje. Os menonitas insistem que a igreja devia ser uma associação voluntária de crentes, inteiramente separada do Estado e caracterizada pela mais plena igualdade e solidariedade entre todos. Uma bela aplicação do ensino de que todo cristão é um sacerdote de Deus.

Esse aspecto nos mostra a importância da comunhão cristã no corpo de Cristo. 

Conclusão


A Reforma do Século 16 foi, mais que uma simples reforma, uma obra de restauração. Restauração de antigas verdades que haviam sido esquecidas ou obscurecidas ao longo dos séculos, e que agora foram recuperadas. Essa obra deve continuar a cada nova geração, seguindo um lema dos reformadores: “Ecclesia reformata, semper reformanda” ou igreja reformada, sempre se reformando.

Louvemos a Deus e honremos a memória dos nossos antepassados na fé resgatando esses valores e vivendo de acordo com os mesmos nos dias atuais. Tornemos nossa fé relevante para os nossos contemporâneos, sem fazer concessões que comprometam a pureza do evangelho de Cristo.

Somos herdeiros de uma herança majestosa através desse movimento que brotou no coração do próprio Deus.

Que Deus Abençoe a Todos

Alexandros Meimaridis

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Desde já agradecemos a todos.

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