sábado, 10 de novembro de 2012

HISTÓRIA DO ANTIGO TESTAMENTO – PARTE 3 — A NAÇÃO DE ISRAEL





Este estudo é parte de uma breve introdução ao Antigo Testamento. Nosso interesse é ajudar todos os leitores a apreciarem a rica herança que temos nas páginas da Antiga Aliança. No final de cada estudo o leitor encontrará direções para outras partes desse estudo 


INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

Capítulo 3 – Quando Ocorreram os Eventos Narrados do A. T.?

I. Quais são os Acontecimentos descritos pelo Antigo Testamento? — ver no final dessa série a tabela contendo os: Períodos Arqueológicos da História do Antigo Oriente Próximo.

C. A Nação de Israel.

Os historiadores não conseguem determinar exatamente porque as duas maiores potências que existiam por volta de 1200 a.C., os egípcios e os hititas, subitamente entraram em declínio. Junto com este declínio ocorreram mudanças de grande importância em todo o antigo Oriente Próximo. Alguns especulam que o declínio estaria relacionado com todas as mudanças provocadas pela queda de Troia - por volta de 1250 a.C., e a subseqüente queda de todas as cidades de Micenas na Grécia continental.

Micenas

Como os gregos eram, de forma geral, excelentes marinheiros, é bastante provável que muitos sobreviventes destas batalhas tenham fugido, se espalhando por toda costa do Mediterrâneo. Esta situação acabou por provocar uma onda que culminou com o desequilíbrio das maiores potências do mundo antigo. Registros históricos daquela época fazem inúmeras referências ao fato de que aqueles estrangeiros eram chamados coletivamente de “povos do mar”. Um desses povos do mar é mencionado em algumas fontes egípcias como “Pelesets”. Estes indivíduos chamados “Pelesets” acabaram se assentando no sudoeste das planícies costeiras da Síria-Palestina. Estes são os mesmos povos que durante os dias do Antigo Testamento são conhecidos como “filisteus”. De acordo com os arqueologistas, o termo “Pelesets” é também o termo que deu origem à palavra “Palestina”[1].

Filisteus

Do ponto de vista do estudo do Antigo Testamento, dentre todas as muitas mudanças que ocorreram com a chegada dos povos do mar no antigo Oriente Próximo, existem duas que são de especial significado para nós, os cristãos:


·       A primeira diz respeito ao enorme vazio no poder causado pela abolição da ordem política que havia existido durante mais de trezentos anos. As campanhas militares internacionais de povos como os hititas e os egípcios foram substituídas por lutas locais e por conflitos regionais. Surgiram então alguns novos grupos étnicos que preencheram o vazio no poder. Estes grupos acabaram formando pequenos impérios. Dentre estes nós podemos destacar os arameus de Damasco e os israelitas que se fixaram nas terras altas da palestina.


·       A segunda mudança resultante da chegada dos povos do mar foi a difusão de novas tecnologias para trabalhar com os metais, especialmente o uso do ferro para confeccionar armas. Não sabemos com exatidão qual grupo inventou a tecnologia do ferro e utilizou-a para fazer armas. Pela leitura do Antigo Testamento fica claro que os filisteus tinham a dianteira nas batalhas com os israelitas por causa da superioridade tecnológica no uso de metais e o monopólio do ferro – ver 1 Samuel 13:19—22. A descoberta da tecnologia do uso do ferro foi tão significativa que os historiadores passaram a chamar aquele período da história humana de: Idade do Ferro.

 
          Artefatos da Idade do Ferro

Resumindo podemos dizer que o período conhecido como Primeira Idade do Ferro – entre 1200—930 a.C. — é aquele que começou com a invasão dos povos do mar o que, por sua vez, causou o declínio dos grandes impérios daqueles dias abrindo um vazio no poder de tal forma que toda a organização política de todo o Oriente Próximo foi alterada.

D. Josué Invade a Palestina.

A invasão da Palestina pelos israelitas sob o comando de Josué não pode ser entendida sem que façamos referências diretas a dois eventos importantes da História Antiga da humanidade:


·       A primeira referência tem a ver com a genealogia do neto de Noé cujo nome era Canaã. Em Gênesis 9:15—19 nós lemos o seguinte: “Canaã gerou a Sidom, seu primogênito, e a Hete, e aos jebuseus, aos amorreus, aos girgaseus, aos heveus, aos arqueus, aos sineus, aos arvadeus, aos zemareus e aos hamateus; e depois se espalharam as famílias dos cananeus. E o limite dos cananeus foi desde Sidom, indo para Gerar, até Gaza, indo para Sodoma, Gomorra, Admá e Zeboim, até Lasa”. Como fica evidente foram estes povos os que habitaram a região da terra de Canaã. Estes povos, como todos os povos em geral, afrontavam sem cessar o Deus Eterno. A Bíblia nos ensina que absolutamente nada passa despercebido diante de Deus. Também somos ensinados de que temos que prestar contas de todos os nossos atos – ver Hebreus 4:13.

 Palestina e seus antigos habitantes 

·       A segunda diz respeito ao momento quando Deus chamou a Abrão e prometeu lhe dar a terra de Canaã, sendo que a mesma já estava ocupada pelos povos mencionados no item anterior. Iria Deus apena desalojar aqueles povos para fazer habitar ali a descendência de Abrão? Absolutamente não! Quando Deus faz a aliança com Abrão para lhe dar a terra de Canaã, Ele declara, de forma específica, o seguinte: ”Sabe, com certeza, que a tua posteridade será peregrina em terra alheia, e será reduzida à escravidão, e será afligida por quatrocentos anos. Mas também eu julgarei a gente – o Egito - a que têm de sujeitar-se; e depois sairão com grandes riquezas. E tu irás para os teus pais em paz; serás sepultado em ditosa velhice. Na quarta geração, tornarão para aqui; porque não se encheu ainda a medida da iniqüidade dos amorreus – Gênesis 15:13 – 16”. Note que um período considerável de tempo teria que passar – 500 anos aproximadamente – até que a medida da iniquidade dos amorreus estivesse completada para que Deus exercesse severo juízo sobre aqueles povos. Assim, em um e mesmo momento histórico, o Deus Eterno executa juízo sobre os amorreus ao mesmo tempo em que cumpre a promessa feita a Abrão séculos antes.
  

Artefatos da Nova Idade do Bronze

Foi perto do final da Nova Idade do Bronze – entre 1550—1200 a.C — que Josué e os israelitas tomaram Canaã e assentaram-se nas terras altas centrais. Durante os dois primeiros séculos da conquista israelita, a nação de Israel era composta por uma confederação informal de 12 tribos, uma para cada um dos filhos de Jacó[2]. Durante este período — de 1250—1050 a.C. — os líderes surgiam entre pessoas comuns do povo, alguns com grande relutância — ver Juízes 6:11—15 — e governavam apenas de forma temporária e somente em determinadas situações. Estes homens e mulheres foram chamados de “juízes”, e eram capacitados e ordenados por Deus para consolidar tanto as forças quanto os recursos das tribos de Israel durante os tempos de crise nacional ou regional. Os ataques militares recorrentes contra Israel vinham dos vizinhos ao redor, mas, especialmente, dos filisteus a sudoeste. Estes ataques constantes tornaram-se motivo de grande frustração entre os israelitas e, apesar do fato de que um governo centralizado não era realmente necessário, os israelitas começaram a querer, então, um rei para manter um exército que assegurasse a segurança no futuro – ver 1 Samuel 8:10—22.

Saul, o primeiro rei entre os judeus e Samuel, o último dos juízes.

E. O Reino Unido.

Este é o motivo histórico que justifica o surgimento da monarquia israelita. Outros motivos foram as pressões culturais que são literalmente explicitadas em 1 Samuel 8:19b—20, onde lemos: “... teremos um rei sobre nós. Para que sejamos também como todas as nações; o nosso rei poderá governar-nos, sair adiante de nós e fazer as nossas guerras”. 


O homem levantado por Deus para agir como “juiz” durante este período de transição para a monarquia foi Samuel que também foi chamado de profeta. Sob a direção de Deus, Samuel ungiu a Saul, da tribo de Benjamim, como o primeiro rei sobre todo Israel. Saul, infelizmente, revelou-se um verdadeiro desastre, principalmente porque não se submeteu à vontade do Deus que o ungira rei de Israel. O resultado desta insubmissão foi que Saul foi rejeitado e com isto sua própria descendência ficou impedida de formar uma dinastia. Se existe algo para aprender e que sirva para a nossa edificação através do estudo da vida de Saul é a importância de mantermos, de forma constante, nosso relacionamento com Deus em submissão à Sua vontade revelada. Essa é a nossa obrigação de número um.

Com a derrocada de Saul, o próprio Deus instruiu o profeta Samuel que ungisse outro homem como rei sobre Israel. De acordo com 1 Samuel 13:14 este homem era alguém que “agradava ao Senhor”. Davi, filho de Jesse, da tribo de Judá, era este homem.

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Davi

O reinado de Davi foi marcado pela vitória definitiva sobre os filisteus. Com isto o povo de Israel, finalmente alcançou certo grau de segurança e paz. Davi forneceu a base para que o reinado do seu sucessor, Salomão, viesse a se tornar uma “era dourada” do povo de Israel. Estabilidade, paz e prosperidade foram as marcas dos reinos de Davi e Salomão. Davi conseguiu unificar as tribos de Israel e ofereceu, em troca de apoio militar, liberdade econômica e política. Com Davi temos o início da mais longa dinastia a governar sobre a região da Palestina.

 
Salomão

O reinado de Salomão viu a expansão das fronteiras atingirem o que fora prometido a Abrão – ver Gênesis 15:18. Sob Salomão as fronteiras da nação de Israel atingiram o Eufrates, ao norte, e até o Egito, ao sul. Talvez o reinado de Salomão, seja o único período da história de Israel que possa ser classificado como “Império”. O longo período de paz experimentado por Salomão permitiu, através, do comércio internacional, que ele trouxesse e acumulasse grande riqueza na terra de Israel. Este foi o período mais próspero da nação. Além de riqueza e de paz com os povos ao redor, Deus deu a Salomão sabedoria sobre todas as questões, incluindo sua capacidade de governar e julgar o povo com justiça e retidão. Pela primeira vez Israel começava a lançar os olhos para além do seu próprio território, entendendo melhor como o mundo funcionava. A corte israelense cresceu e passou a envolver-se mais com as questões e os assuntos de Estado. A imagem de Salomão foi projetada como um líder hábil e sábio por toda a circunvizinhança.

De todos os privilégios que Salomão pode desfrutar, nenhum pode se comparar com o de construir o Templo de Deus em Jerusalém. Por mais que Davi desejasse fazê-lo, tal privilégio coube a Salomão.

Templo de Salomão em Jerusalém

De acordo com 1 Reis 4:25 os reinados de Saul, Davi e Salomão ou a “monarquia unificada” serão sempre lembrados como tempos ideais de paz e prosperidade.

Infelizmente este período acabou com a morte de Salomão. Já antes de morrer, Salomão havia se afastado de Deus, da mesma maneira como Saul fizera antes dele: “Sendo já velho, suas mulheres lhe perverteram o coração para seguir outros deuses; e o seu coração não era de todo fiel para com o SENHOR, seu Deus, como fora o de Davi, seu pai — 1 Reis 11:4. Após a morte de Salomão o reino foi dividido em duas nações mais fracas: Israel, ao norte e composto de 9 tribos, e Judá, ao Sul composto pelas tribos de Judá e Benjamim. Este período é chamado de “monarquia dividida”.

Que Deus abençoe a todos.

Outros artigos acerca da Introdução ao Antigo Testamento

A. O Texto do Antigo Testamento

001 – O CÂNON DO ANTIGO TESTAMENTO

002 – A INSPIRAÇÃO DA BÍBLIA

003 – A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 1 = Os Escribas e O Texto Massorético — TM

004 – A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 2 = O Texto Protomassorético e o Pentateuco Samaritano

005 – A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 3 = Os Manuscritos do Mar Morto e os Fragmentos da Guenizá do Cairo

006 - A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 4 = A Septuaginta ou LXX

007 - A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 5 = Os Targuns e Como Interpretar a Bíblia

B. A Geografia do Antigo Testamento

001 – INTRODUÇÃO E MESOPOTÂMIA

002 – O EGITO

003 – A SÍRIA—PALESTINA

B. A História do Antigo Testamento

001 – OS PATRIARCAS DA NAÇÃO DE ISRAEL

002 — NASCE A NAÇÃO DE ISRAEL

003 – A NAÇÃO DE ISRAEL

Que Deus abençoe a todos.

Alexandros Meimaridis
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Desde já agradecemos a todos.


O material contido neste estudo foi, em parte, adaptado e editado das seguintes obras, que o autor recomenda para todos os interessados em aprofundar os conhecimentos acerca do Antigo Testamento:

Bibliografia

Aharoni, Yahanan; Avi-Yonah, Michael; Rainey, Anson F. e Safrai, Ze’ev. Atlas Bíblico. Casa Publicadora das Assembléias de Deus – CPAD, Rio de Janeiro, 1998,

Arnold, Bill T. e Beyer, Bryan E. Descobrindo o Antigo Testamento. Editora Cultura Cristã, São Paulo, 2001.

Bright, John. História de Israel. Paulus, São Paulo, 6ª Edição, 1980.  

Durant, Will. The History of Civilization Volume 1 – Our Oriental Herritage. Simon and Schuster, New York, 1963.
Heródoto de Halicarnassus. The Histories. Penguin Books Ldt, Middlisex, reprinted, 1986.

Hallo, William W. e Simpson, William Kelly. The Ancient Near East: A History. Nova York, Harcourt Brace Jovanovich, 1971.

Howard, Jr. David M. “Philistines” em People of the Old Testament World, org. Alfred Hoerth, Gerald L. Mattingly e Edwin M. Yamauchi. Baker Book House, Grand Rapids, 1994.

King, Philip J. American Archaeology in the Mideast: A History of the American Schools of Oriental Research. ASOR, Philadelphia, 1983.

Millard, Alan; Stanley, Brian e Wrigth, David. Atlas Vida Nova da Bíblia e História do Cristianismo. Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, São Paulo, reimpressão, 1998.

Schoville, Keith N. Biblical Arcaheology in Focus. Baker Book House, Grand Rapids, 1978.

Wilson, John A. The Culture of Ancient Egypt. Chicago University Press, Chicago, 1951.


__________Britannica Atlas. Encyclopaedia Britannica Inc., Chicago, 1996.

Enciclopédias

__________The New Encyclopaedia Brtannica. Encyclopaedia Britannica Inc., Chicago, 15th Edition, 1995.


Softwares

Ferreira, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio Século XXI. Edição Eletrônica, São Paulo, 2004.



[1] Howard, Jr. David M. “Philistines” em People of the Old Testament World, org. Alfred Hoerth, Gerald L. Mattingly e Edwin M. Yamauchi. Baker Book House, Grand Rapids, 1994.

[2] Acerca das doze tribos é importante entendermos o seguinte: Jacó teve doze filhos. O filho de Jacó, José, foi retirado da lista, pois foi substituído pelos seus dois filhos: Manassés e Efraim. Desta maneira o número subiu para treze. Os descendentes de outro filho de Jacó, Levi, também foram retirados da lista, pois não receberiam herança física entre seus irmãos. A porção dos levitas era o próprio Deus. Assim a lista volta a ficar com doze nomes e foi entre esses que a terra de Canaã foi dividida.

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