domingo, 7 de junho de 2015

COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS — MATERIAIS DE ESCRITA - ESTUDO 003 - OS PAPIROS - FINAL



Papiro P86

Essa é uma série estritamente acadêmica, mas não existe na mesma absolutamente nada que impeça a leitura por todas as pessoas. De fato queremos incentivar que todos possam ler esses artigos compartilhar os mesmos com todos os seus contatos, parentes e conhecidos.

CONTINUAÇÃO...

O que se fazia com as folhas de papiro depois que estavam prontas, dependia do propósito para o qual as mesmas tinham sido produzidas. Folhas soltas de papiro eram, geralmente, vendidas para serem usadas para registros diversos, memorandos, treinamento de escrita e etc. Alguns argumentam que papiros de qualidade muito baixa eram usados apenas como “papeis” de embrulho. Mas nosso interesse está centrado em seu uso para produzir livros. Quando se trabalhava com papiro, o rolo era, sem sombra de dúvida, a melhor forma de usar tal material. As folhas individuais eram unidas pelas suas bordas. Plínio afirma que as melhores folhas eram geralmente colocadas no início do rolo. Não sabemos se o motivo de tal procedimento era porque as mesmas eram mais resistentes ou porque deixavam o rolo mais bonito e mais valioso na hora de comercializá-lo. Ainda de acordo com Plínio, o rolo padrão era composto de 20 folhas o que somadas se estendiam por cerca de 5 metros. Mas existiam papiros mais longos com certeza. Um desses casos é o papiro Harris I que está no Museu Britânico catalogado sob o número EA9999.61. Esse rolo tem quase 40 metros de comprimento.

Papyrus; Hieratic text. Published by Peet, Great Tomb Robberies (1930).
Papiro Harris I

Os rolos também permitiam uma série de curvas contínuas o que evitava colocar estresse em qualquer ponto do papiro. Um codex — montagem em forma de livro — precisava ter dobras firmes e bem definidas com relação a um conjunto de folhas simples ou no máximo duas. A dobra definida tornava-se num ponto de extrema fragilidade como é fácil deduzir. Até mesmo o papiro P66 que está quase intacto, apresenta muitos pontos quebrados em sua espinha. Até onde esse autor sabe, somente o papiro P5 possui porções escritas tanto da parte da frente quanto de verso de suas folhas dobradas. Mas a impressão que temos é que essas folhas não estavam unidas ou que as mesmas pertenciam a algum conjunto central de páginas.

 Papiro P66

Papiro P5

Todos os rolos eram produzidos de acordo com certos padrões desenvolvidos ao longo do tempo. Por exemplo: todas as tiras horizontais de uma determinada folha eram colocadas no mesmo lado do rolo, pois somente um dos lados apenas deveria receber a escrita, e era mais fácil escrever numa única direção. Abaixo temos uma reprodução do Papiro Rhind no qual podemos perceber, com certa clareza, as linhas entre as tiras retiradas da casca da planta. O Papiro Rhind que foi adquirido em 1858 por A. Henry Rhind, e é um papiro fragmentado de um documento egípcio que apresenta esboços de operações matemáticas. O mesmo foi escrito por um escriba de nome Ahmose e data, provavelmente, do período em que o país estava dominado pelos Hicsos. Com isso a idade provável do mesmo é de 3.700 anos. Alguns acreditam que o mesmo é uma cópia de algum documento ainda mais antigo que pertencia, originalmente, à XII Dinastia — de 1991 a 1782 a. C. Isso faz desse papiro um dos documentos matemáticos mais antigos em existência.


O consenso entre aqueles que escrevem acerca de papiros é que — com exceção dos papiros opistografos, ou seja, papiros escritos na frente e no verso da folha — o normal era escrever nos rolos apenas no lado da folha onde as tiras estavam colocadas na horizontal. Isso é verdadeiro para os papiros gregos, mas nos papiros egípcios era comum escrever-se dos dois lados. Outros papiros têm sido encontrados onde o resumo do conteúdo está escrito do lado de fora do rolo, enquanto o conteúdo está escrito na parte de dentro dos mesmos.

A maioria dos rolos eram montados de tal maneira que, as linhas de escrita eram paralelas ao maior comprimento do papiro. Com isso queremos dizer que: se ==== representa uma linha de texto, então um rolo típico teria a aparência que mostramos abaixo:

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O historiador romano Suetónio, no entanto, alega que na Roma pré-imperial os documentos oficiais eram escritos conforme o formato a seguir.

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Mas tal afirmação é difícil de ser confirmada porque não existem documentos disponíveis nesse formato. Pelo menos que sejam conhecidos.

Alguns são da opinião que no princípio da produção de papiros, os mesmos costumavam ter suas folhas costuradas umas nas outras. Mas isso causava mais prejuízos que benefícios. Os fabricantes de rolos e livros logo perceberam as vantagens de colar as folhas. Partindo de descrições antigas e de ilustrações disponíveis, parece que desde cedo se tornou prática comum enrolar os papiros em pedaços de madeiras. Figuras da Torá judaica sugerem que a mesma estava enrolada em dois pedaços de madeira. Infelizmente temos pouquíssimos exemplos dessas madeiras disponíveis para análise. Os títulos dos materiais contido no papiro eram, geralmente, escritos na própria madeira onde o rolo era colocado.

Papiro Oxy 208
Papiro altamente fragmentado

O maior problema com os papiros era sua fragilidade. A umidade era suficiente para destruí-los por completo. Esse é o motivo porque os papiros sobreviveram apenas no Egito ou em outras regiões desérticas, como o deserto próximo ao Mar Morto na Palestina. Mas se no tempo seco os mesmos estão protegidos da umidade, eles tendem a ficar quebradiços com o passar do tempo. Por isso, seria praticamente impossível fabricar um volume de papiro que se torna-se referência. Infelizmente o mesmo não duraria tanto tempo assim. Por outro lado, temos poucos, se de fato existirem, papiros que podem ser considerados palimpsestos — papiros ou qualquer outro material que foram apagados e depois reescritos por cima.

O papiro foi utilizado como material de escrita durante um período que se estendeu por 3.000 anos. Podemos afirma com toda certeza, que as primeiras produções cristãs escritas foram produzidas sobre esse tipo de material. Mas à medida que a igreja cresceu e passou a ter maior disponibilidade financeira a tendência foi passar a produzir os escritos cristãos em materiais mais duráveis como os pergaminhos, por exemplo. Nossas Bíblias grafadas em papiros e que continuam preservadas até hoje datam do século VIII d.C. Acredita-se que a produção de papiro para uso comercial teve seu fim por volta do século X d.C. Mesmo assim, a igreja romana continuou a usar papiros para seus registros e para as bulas papais até o século XI d.C. O último documento dessa natureza que tem sua data preservada foi produzido e assinado pelo papa Vitório II em 1057.[1]    

OUTROS ARTIGOS DE COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS

COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS – PARTE 001 – MATERIAL DE ESCRITA ANTIGO

COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS – PARTE 002 – MATERIAL DE ESCRITA ANTIGO — O PAPIRO

COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS – PARTE 003 – MATERIAL DE ESCRITA ANTIGO — O PAPIRO — FINAL

COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS – PARTE 004 – MATERIAL DE ESCRITA ANTIGO — OS PERGAMINHOS

COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS – PARTE 005 – MATERIAL DE ESCRITA ANTIGO — PAPEL E BARRO

COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS – PARTE 006 – ARQUÉTIPOS E AUTÓGRAFOS — PARTE 001

COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS – PARTE 007 – ARQUÉTIPOS E AUTÓGRAFOS — PARTE 002

COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS – PARTE 008 – ARQUÉTIPOS E AUTÓGRAFOS — PARTE 003 – FINAL

COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS – PARTE 009 – OS ESCRIBAS E OS COPISTAS E OS MANUSCRITOS QUE ELES PRODUZIRAM — PARTE 001

COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS – PARTE 010 – OS ESCRIBAS E OS COPISTAS E OS MANUSCRITOS QUE ELES PRODUZIRAM — PARTE 002

COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS – PARTE 011 – OS ESCRIBAS E OS COPISTAS E OS MANUSCRITOS QUE ELES PRODUZIRAM — PARTE 003

COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS – PARTE 012 – OS ESCRIBAS E OS COPISTAS E OS MANUSCRITOS QUE ELES PRODUZIRAM — PARTE 004

COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS – PARTE 013 – OS ESCRIBAS E OS COPISTAS E OS MANUSCRITOS QUE ELES PRODUZIRAM — PARTE 005

COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS — PARTE 014 — OS ESCRIBAS E OS COPISTAS E OS MANUSCRITOS QUE ELES PRODUZIRAM — PARTE 006
Que Deus abençoe a todos.

Alexandros Meimaridis

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Desde já agradecemos a todos.




[1] Deuel, Leo. Testaments of Time: The Serach for Lost Manuscripsts and Records. Alfred A. Knopf, New York, 1965.

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