sábado, 29 de julho de 2017

A VIDA DO APÓSTOLO PAULO — ESTUDO 003 — PAULO COMO PERSEGUIDOR DA IGREJA


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Essa é uma série de artigos acerca da vida do apóstolo Paulo em ordem cronológica. Convidamos todos os nossos leitores a acompanharem a mesma à medida que for sendo publicada. Boa leitura.

A vida do Apóstolo Paulo é única. Tendo iniciado sua vida pública como fariseu e aluno de Gamaliel, quando ainda era chamado Saulo, tornou-se num feroz perseguidor da Igreja do Senhor Jesus. Após um encontro pessoal com Jesus no caminho para Damasco, para onde se dirigia com a intenção de prender e arrastar de volta para Jerusalém crentes em Cristo, ele teve seu nome mudado para Paulo e tornou-se no maior pregador do evangelho da graça de Deus. Seus escritos, parte integral do Novo Testamento, continuam influentes até nossos dias. Vale a pena conhecer um pouco melhor sua trajetória, em ordem cronológica:

III. Paulo como Perseguidor da Igreja.

A. As primeiras menções acerca de Saulo de Tarso no Novo Testamento nos mostram um ferrenho opositor e perseguidor da Igreja cristã:

1. Ele era a referência da autoridade de Sinédrio durante o apedrejamento de Estevão —

Atos 7:58 – 8:1a.

58 E, lançando-o fora da cidade, o apedrejaram. As testemunhas deixaram suas vestes aos pés de um jovem chamado Saulo.

59 E apedrejavam Estêvão, que invocava e dizia: Senhor Jesus, recebe o meu espírito!

60 Então, ajoelhando-se, clamou em alta voz: Senhor, não lhes imputes este pecado! Com estas palavras, adormeceu.

1  E Saulo consentia na sua morte.

2. Saulo perseguia os cristãos para onde quer que tivessem fugido prendendo-os —

Atos 8:1b—3

1 Naquele dia, levantou-se grande perseguição contra a igreja em Jerusalém; e todos, exceto os apóstolos, foram dispersos pelas regiões da Judéia e Samaria.

2 Alguns homens piedosos sepultaram Estêvão e fizeram grande pranto sobre ele.

3 Saulo, porém, assolava a igreja, entrando pelas casas; e, arrastando homens e mulheres, encerrava-os no cárcere.

Atos 9:1—2

1 Saulo, respirando ainda ameaças e morte contra os discípulos do Senhor, dirigiu-se ao sumo sacerdote

2 e lhe pediu cartas para as sinagogas de Damasco, a fim de que, caso achasse alguns que eram do Caminho, assim homens como mulheres, os levasse presos para Jerusalém.

B. Paulo sempre reconheceu que sua atitude perseguidora representava um problema que encontrava solução exclusivamente na misericórdia e na graça de Deus. Por ter perseguido a Igreja de Cristo Paulo se considerava:

1. O menor dos apóstolos e até mesmo indigno de ser considerado um apóstolo —

1 Coríntios 15:9

Porque eu sou o menor dos apóstolos, que mesmo não sou digno de ser chamado apóstolo, pois persegui a igreja de Deus.

2. O principal dos pecadores —

1 Timóteo 1:15—16

15 Fiel é a palavra e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal.

16 Mas, por esta mesma razão, me foi concedida misericórdia, para que, em mim, o principal, evidenciasse Jesus Cristo a sua completa longanimidade, e servisse eu de modelo a quantos hão de crer nele para a vida eterna.

3. O menor entre todos os santos de Deus, i.e., o menor entre todo o povo de Deus —
Efésios 3:8

A mim, o menor de todos os santos, me foi dada esta graça de pregar aos gentios o evangelho das insondáveis riquezas de Cristo.

A pergunta que precisamos fazer aqui é a seguinte: o que teria levado um homem instruído como Paulo a se tornar um opositor tão feroz daquilo que parecia ser apenas mais uma em meio às muitas seitas existentes no judaísmo?

Naqueles dias prevalecia na terra de Israel uma noção que dizia o seguinte: apesar de não existir absolutamente nada que pudesse ser feito para apressar ou impedir a vinda do Messias e da inauguração da Era Messiânica, transgressões e apostasias no meio do povo podiam contribuir para atrasar tal manifestação. Por este motivo os fariseus entendiam como sendo parte das suas obrigações garantirem o mais estrito cumprimento da lei, especialmente durante aqueles dias em que, segundo a compreensão que eles tinham, o Messias se encontrava em “trabalho de parto” e deveria aparecer muito em breve. Além disso, era interesse dos fariseus manter o povo o mais unido possível nos dias que antecederiam a bendita manifestação do Messias.

Os motivos alistados acima são alguns dos que motivaram Saulo a se tornar tão ferrenho perseguidor dos seguidores de Jesus. Para Saulo o Senhor Jesus havia sido desacreditado como o Messias porque havia sido crucificado. Não era possível aceitar como Messias alguém que havia sido amaldiçoado por Deus de acordo com —

Deuteronômio 21:22—23

22 Se alguém houver pecado, passível da pena de morte, e tiver sido morto, e o pendurares num madeiro,

23 o seu cadáver não permanecerá no madeiro durante a noite, mas, certamente, o enterrarás no mesmo dia; porquanto o que for pendurado no madeiro é maldito de Deus; assim, não contaminarás a terra que o SENHOR, teu Deus, te dá em herança.

Portanto, não fazia nenhum sentido tolerar a pregação, considerada cismática dos seguidores de Jesus. Os mesmos precisavam ser silenciados.

Existem duas passagens no Antigo Testamento que poderiam ser utilizadas para justificar os atos de Saulo. São elas:

C. Números 25:1—5 que descreve a ordem dada por Moisés para que fossem destruídos todos os que haviam se comportado de forma imoral em Baal-Peor imediatamente antes do povo de Israel entrar na terra prometida.

D. Números 25:6—15 que fala acerca de como a ira de Deus foi desviada por Finéias que agiu com firmeza visando eliminar a apostasia do meio do povo de Israel. Por seu ato Finéias foi louvado pelo próprio Deus.

Para Saulo a situação em seus próprios dias poderia se parecer muito com aquelas descritas nos primeiros 15 versículos de Números. Da mesma maneira que a apostasia nos dias de Moisés representava um retrocesso no processo de entrada do povo de Israel na terra prometida, a apostasia, como entendida por Saulo, existente em seus dias representava um retrocesso no processo de chegada da Era Messiânica. Os seguidores de Jesus eram vistos como responsáveis diretos pelo retardamento da chegada da bênção de Deus sobre Seu povo.

E. Outras duas passagens contidas nos livros apócrifos dos Macabeus também poderiam ser usadas para justificar os atos de Paulo. Elas São:

1 Macabeus 2:23—28

Mal terminou ele de proferir estas palavras, um judeu apresentou-se, para sacrificar sobre o altar de Modim, segundo o decreto do rei. Ao ver isto, Matatias inflamou-se de zelo e seus rins fremiram. Tomado de justa ira, ele arremessou-se contra o apóstata e o trucidou sobre o altar. No mesmo instante matou o emissário do rei, que forçava a sacrificar, e derribou o altar. Ele agia por zelo pela Lei, do mesmo modo como havia procedido Finéias para com Zambri, filho de Salu. A seguir clamou Matatias em alta voz através da cidade: “Todo o que tiver o zelo da Lei e quiser manter firme a Aliança, saia após mim!” Então fugiu, ele e seus filhos para as montanhas, deixando tudo o que possuíam na cidade.

1 Macabeus 2:42—48

Então uniu-se a eles o grupo dos assideus[1], homens valorosos de Israel, cada um deles apegado à Lei da mesma forma, todos os que fugiam desses males aderiam a eles e forneciam-lhes apoio. Assim organizaram um exército e bateram os ímpios em sua ira e os homens iníquos em sua cólera. Os restantes fugiram buscando a salvação entre os gentios. Matatias e seus companheiros fizeram incursões pelo país afim de destruírem os altares e circuncidarem à força todos os meninos incircuncisos que encontrassem pelo território de Israel. Deram caça aos filhos da soberba e seu empreendimento prosperou em suas mãos. Conseguiram recuperar a Lei das mãos dos gentios e dos reis, e não permitiram que o celerado triunfasse.

Além dessas duas passagens, é possível que Saulo estivesse também levando em consideração a exortação contida em —

2 Macabeus 6:12—13

Agora, aos que estiverem defrontando-se com este livro, gostaria de exortar que não desconcertem diante de tais calamidades, mas pensem antes que esses castigos não sucederam para a ruína, mas para correção da nossa gente. De fato, não deixar impunes por longo tempo os que cometem impiedade, mas imediatamente atingi-los com castigos, é sinal de grande benevolência.

Com esses exemplos tirados da história do povo de Israel e diante da grande expectativa do advento da Era Messiânica podemos entender melhor — não justificar — a motivação que existia em Saulo para arrancar o mal pela raiz daquilo que ele acreditava ser uma verdadeira e grande apostasia.

F. Outro e último aspecto que devemos notar entre as motivações de Saulo para perseguir os cristãos tem a ver com a atitude que os seguidores de Jesus tinham para com o templo em Jerusalém. O templo que existia nos dias de Jesus e de Saulo era uma luxuosa construção, ricamente adornada e que havia demorado 46 anos para ser concluída — ver João 2:20. A área do templo ocupava 1/5 da área total da cidade de Jerusalém. Naqueles dias, o templo em si havia se tornado um polo de atração e muitos judeus espalhados ao redor do mundo estavam retornando para Israel para morar ali, porque acreditavam que agora o templo estava pronto para o advento do Messias. Uma consequência direta desta expectativa é que o templo acabou se transformando em uma verdadeira “vaca sagrada”, além de ser uma extraordinária fonte de renda para aqueles que exploravam os vários negócios atrelados ao funcionamento do mesmo. Entre estes negócios podemos citar:


1. A venda de animais de todos os portes — pombos, ovelhas e bois — era um grande incômodo transportar animais em longas viagens quando o objetivo era ir adorar em Jerusalém. Por esse motivo, foi providenciado o “serviço” de se manter animais cerimonialmente limpos nas imediações do templo para atender às necessidades dos adoradores que podiam, dessa maneira, adquirir os animais que seriam oferecidos em sacrifício em Jerusalém, em vez de ter que transportá-los em longas viagens. A intenção era boa na origem, mas profundamente criminosa no final, pois a grande maioria dos animais vendidos não eram sacrificados e sim reciclados para serem vendidos novamente. Esta é uma perversão muito comum em todos os grandes santuários ao redor do mundo, em todas as épocas.

2. Outra imoralidade que existia no comércio praticado no templo em Jerusalém, tinha a ver com a questão da moeda a ser utilizada na compra dos bens e serviços que eram ofertados. De acordo com o regulamento existente era aceita somente a moeda local — o shekel hebraico. Esta situação era usada para extorquir os adoradores que sofriam grandes perdas todas as vezes que tinham que trocar suas moedas. 

G. Não é à toa que o Senhor Jesus reagiu com firmeza contra esse estado de coisas, não uma vez apenas, mas duas. Uma no início do seu ministério e outra durante a última semana antes da sua crucificação — ver João 2:13—16 e Marcos 11:15—17. Mas a atitude de Jesus ao criticar aqueles estado de coisas não deve ser percebida como se ele concordasse com a desmesurada e idolátrica posição que os judeus mantinham com relação ao seu grande e glorioso templo. A posição de Jesus com relação ao templo em Jerusalém, posição essa que foi bem compreendida pelos seus seguidores era a seguinte:

1. Jesus se considerava, como não poderia deixar de ser, maior do que o próprio templo —

Mateus 12:6

Aqui está quem é maior que o templo.

2. O templo, Jesus ensinou, cumpria um papel temporário. Acerca da disputa que existia entre judeus e samaritanos quanto ao lugar correto para se adorar — monte Sião ou monte Gerizim — Jesus foi categórico ao afirmar:

A hora vem, quando nem neste monte – Gerizim – nem em Jerusalém adorareis o Pai — ver João 4:20—21.

3. Ademais Jesus deixou bem claro o seguinte:

João 4:23—24

Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores. Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade.

Tal tipo de adoração é completamente independente do local onde acontece. Pode ser aqui, ali ou acolá. O local é irrelevante. O importante é a atitude: em espírito e em verdade.

Estes ensinamentos foram apropriados pelos cristãos e falaremos disto um pouco mais adiante. Mas incentivar as pessoas com a ideia de que o templo em Jerusalém não era central para a adoração ao Deus verdadeiro, ainda mais aquele templo suntuoso, digno do mais radiante Messias, era considerado o supra sumo da apostasia. Daí porque Saulo reage com tamanha violência.

OUTROS ESTUDOS ACERCA DA VIDA DE PAULO

Estudo 001 — As Origens de Paulo

Estudo 002 — Paulo e o Judaísmo


Que Deus abençoe a todos.


Alexandros Meimaridis


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[1] Assideus — forma grega do hebraico hassidim, os piedosos, comunidade de judeus apegados à Lei. Eles resistiram à influencia pagã desde antes dos Macabeus e tornaram-se a tropa de choque de Judas Macabeus — ver 2 Macabeus 14:6 —, mas sem se subordinarem à política dos Asmoneus — ver 1 Macabeus 7:13. Segundo Josefo, sob o principado de Jônatas, por volta de 150 a. C., eles se dividiram em fariseus e essênios — Nota retirada da Bíblia de Jerusalém, publicada pelas Edições Paulinas, 1ª edição em Língua Portuguesa, São Paulo, 1980.

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