sexta-feira, 9 de novembro de 2012

HISTÓRIA DO ANTIGO TESTAMENTO – PARTE 2 — NASCE A NAÇÃO DE ISRAEL.




Este estudo é parte de uma breve introdução ao Antigo Testamento. Nosso interesse é ajudar todos os leitores a apreciarem a rica herança que temos nas páginas da Antiga Aliança. No final de cada estudo o leitor encontrará direções para outras partes desse estudo 

INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

Capítulo 3 – Quando Ocorreram os Eventos Narrados do A. T.?

I. Quais são os Acontecimentos descritos pelo Antigo Testamento? — ver no final dessa série a tabela contendo os: Períodos Arqueológicos da História do Antigo Oriente Próximo.

B. Nasce uma Nação – ver Deuteronômio 4:32—34.

O período que vai de 1550 a 1200 a.C., é chamado pelos arqueólogos de Nova Idade de Bronze. Este período foi caracterizado por um tempo de comércio internacional intenso e de equilíbrio entre as potências mundiais. Os egípcios conseguiram dar um fim à dominação dos hicsos e entraram naquele que foi seu período de maior força política e que ficou conhecido como o Novo Império - dinastias 18 a 20, de 1550—1100 a.C. Este fato torna ainda mais impressionante e significativa a libertação do povo judeu do jugo egípcio, independente da data em que êxodo teria acontecido, já que as duas prováveis datas – século 15 ou século 13 a.C. – encontram-se dentro do período do Novo Império do Egito.

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Novo Império Egípcio

Durante a Nova Idade de Bronze o Egito gozou de hegemonia enquanto a Mesopotâmia passou por um tempo de fraqueza política. Após a queda do Antigo Império Babilônico de Hamurabi, o sul da Mesopotâmia foi invadido e passou a ser controlado por um grupo de estrangeiros originários das Montanhas Zagros[1]: os cassitas. A dinastia cassita reinou por um período que durou mais de trezentos anos e trouxe paz e estabilidade à Babilônia, porém não trouxe superioridade militar. Os cassitas preferiam fazer uso de tratados de paz e outros meios não-militares de diplomacia, para defender suas fronteiras. Eles adotaram muitos elementos tradicionais da cultura babilônica, inclusive o idioma babilônico acádio o qual, durante esse período, tornou-se a língua franca daquela época. Os cassitas elevaram todo o sul da Mesopotâmia a um novo nível de prestígio internacional.

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Montanhas Zagros

Uma das primeiras iniciativas dos poderosos soberanos egípcios do Novo Império foi tentar controlar as áreas costeiras da Síria-Palestina, a estrada costeira para a Fenícia – a Via Maris - e a Núbia, ao sul. Uma vez estabelecidos tais controles, os egípcios passaram a dominar o intercambio mercantil com o Mar Egeu e com o resto da Ásia ocidental. Este domínio possibilitou o Egito alcançar incríveis níveis de prosperidade e riqueza. No ápice desse império, Amenotep IV, da décima oitava dinastia, tornou-se faraó em 1353 a.C. Em ato realmente surpreendente Amenotep IV mudou seu nome para Akenaton e tentou implantar uma espécie de monoteísmo em uma terra acostumada a adorar centenas de deuses.

Akenathon

Além disso, ele mudou a capital do seu reino para trezentos quilômetros ao norte de Tebas, para a moderna Tel El Amarna em 1348 a.C. Durante um período de aproximadamente dez anos, Akenaton elevou de forma seguida, a imagem do deus-sol, Aton, à posição de divindade suprema, e quase conseguiu implantar o monoteísmo religioso. Após a morte de Akenaton a corte retornou para a cidade de Tebas e a cidade de Tel El Amarna foi abandonada. Todavia, centenas de placas de barro escritas em babilônico foram encontradas em duas expedições arqueológicas em 1890 e 1970 - as chamadas cartas de Amarna. O conteúdo destas cartas revelou que as mesmas haviam sido escritas por reis-vassalos na Síria-Palestina e governantes da Anatólia e Mesopotâmia e as mesmas refletem a situação política que existia em suas regiões durante a metade do século 14 a.C. Ao fim do reinado de Akenaton o Egito começou a perder seu poderio internacional sobre o oeste da Ásia. Muitas cidades da Síria-Palestina assumiram sua independência, em parte por causa da negligência dos egípcios e em parte porque estes já não tinham o poderio militar de antes.

Tel El Amarna

No extremo norte do Crescente Fértil, na região conhecida por Anatólia, o Império Hitita havia se expandido para o leste e obtido o controle de toda a Ásia Menor ocidental bem como do norte da Síria. Durante mais de 100 anos, os hititas mantiveram, graças à uma forte liderança real, o controle da Síria, tendo expandido seu domínio quase até Damasco. Entre os anos de 1344—1239 a.C., os reis hititas lutaram contra os faraós da décima nona dinastia do Egito, com os quais acabaram chegando a um verdadeiro impasse, concernente ao poder, na metade do século 13. Próximo do final da Nova Idade do Bronze – por volta de 1200 a.C. - o faraó Ramsés II e o rei hitita Hattushili III concordaram em fazer um acordo de paz visando dar fim às hostilidades entre as duas nações.

Ramsés II

Múmia de Ramsés II

É provável que o menino Moisés tenha nascido entre os descendentes da tribo de Levi durante a Nova Idade do Bronze. Naqueles dias o povo de Israel estava sofrendo sob o pesado jugo da escravidão no Egito. Nos dias em que Moisés nasceu, o faraó estava tentando controlar o rápido crescimento da população israelita mandando matar a todos os meninos israelitas recém-nascidos. Da mesma maneira como havia acontecido com o nascimento de Isaque e com a ascensão de José no Egito, o menino Moisés foi miraculosamente salvo pela própria filha do faraó e cresceu na corte real egípcia, como filho da filha do faraó. No Egito Moisés cresceu com direito a receber uma educação que refletia o apogeu da cultura egípcia - ver Atos 7:22.

 
Moisés

No tempo determinado por Deus, Moisés foi chamado para liderar o povo de Israel e libertá-lo da escravidão do Egito. Os egípcios acreditavam que o faraó, que era considerado um deus, controlava a ordem cósmica. Mas o Deus verdadeiro, além de libertar Seu povo, pretendia ainda trazer severo juízo tanto sobre a multidão de divindades que existia no Egito, quanto sobre o próprio faraó-deus. Para alcançar estes propósitos o SENHOR decidiu trazer uma série de pragas cujo propósito era provar, acima de tudo, quem realmente estava em pleno controle de todas as coisas. As pragas acabaram por demonstrar tanto a superioridade quanto a majestade de יהוה - YHVH[2] – palavra que significa o ETERNO, o Deus dos israelitas[3]. A saída do povo de Israel do Egito sob Moisés marcou o nascimento da nação de Israel como que tendo sido forjada na fornalha de fogo que o Egito representava – ver Deuteronômio 4:20.  Deus conduziu Seu povo até o monte Sinai, também chamado de monte Horebe e, ali celebrou uma aliança com eles – ver Êxodo 19:4—6. Juntamente com a aliança o povo recebeu de Deus um conjunto completo de Leis que deveriam regular o relacionamento do povo com Deus, bem como o relacionamento que deveria existir entre os membros do povo de Deus entre si.

Monte Sinai ou Horebe

De maneira surpreendente o povo de Israel rejeitou a aliança com Deus e se recusou a entrar na terra prometida temendo o que lhe poderia acontecer. A viagem de Horebe até Cades levou 11 dias. De Cades até a terra de Canaã não seriam necessárias mais do que 2 semanas. Mas o povo preferiu não se arriscar, em flagrante desobediência a Deus. Tal ato foi a demonstração mais explícita de falta de fé e de confiança em Deus. Israel, a nova nação, rejeitou a aliança de Deus no deserto e recusou-se a entrar na terra prometida. O resultado? O povo de Israel teve que vagar pelo deserto por 40 anos até que toda aquela geração de incrédulos perecesse – ver Deuteronômio 2:14. Finalmente, quando estavam para entrar na terra prometida, nas planícies de Moabe, no lado oeste do Jordão em frente a Jericó, Deus recolheu a Moisés o qual não pode entrar na terra prometida – ver Números 27:12—13. O povo passou a ser liderado por Josué. Sob sua liderança Israel conquistou a terra prometida e assentou-se nela. Assim foram cumpridas as promessas feitas a Abraão, Isaque e Jacó.


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Josué e Calebe

O estabelecimento de datas precisas continua a representar uma dificuldade considerável. Todavia, podemos, usando a latitude disponível, dizer que o êxodo dos israelitas do Egito aconteceu em algum momento durante a época do Novo Império da história do Egito. A data do êxodo do Egito foi fixada pelos estudiosos em dois momentos possíveis – 1446 a.C. e 1275 a.C., aproximadamente. Um dos maiores problemas nesta discussão tem a ver com a incapacidade dos historiadores de estabelecer quem era, exatamente, o faraó mencionado no livro do Êxodo. Opiniões variam entre Tutmose III ou Amenotep II, ambos da décima oitava dinastia para aqueles que defendem a data mais antiga. Os que aceitam a data mais recente insistem que o faraó não era outro senão Ramsés II da décima nona dinastia. A dificuldade dos historiadores, todavia, não deve nos levar a pensar, de maneira equivocada, que a narrativa do livro do Êxodo seja lendária. Existem elementos históricos suficientes no livro do Êxodo que fazem referências diretas tanto a práticas quanto a costumes que são plenamente compatíveis com aqueles registrados em outros povo e culturas durante a Nova Idade do Bronze.

Que Deus abençoe a todos.

Outros artigos acerca da Introdução ao Antigo Testamento

A. O Texto do Antigo Testamento

001 – O CÂNON DO ANTIGO TESTAMENTO

002 – A INSPIRAÇÃO DA BÍBLIA

003 – A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 1 = Os Escribas e O Texto Massorético — TM

004 – A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 2 = O Texto Protomassorético e o Pentateuco Samaritano

005 – A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 3 = Os Manuscritos do Mar Morto e os Fragmentos da Guenizá do Cairo

006 - A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 4 = A Septuaginta ou LXX

007 - A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 5 = Os Targuns e Como Interpretar a Bíblia

B. A Geografia do Antigo Testamento

001 – INTRODUÇÃO E MESOPOTÂMIA

002 – O EGITO

003 – A SÍRIA—PALESTINA

B. A História do Antigo Testamento

001 – OS PATRIARCAS DA NAÇÃO DE ISRAEL

002 – NASCE A NAÇÃO DE ISRAEL

Que Deus abençoe a todos.

Alexandros Meimaridis

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O material contido neste estudo foi, em parte, adaptado e editado das seguintes obras, que o autor recomenda para todos os interessados em aprofundar os conhecimentos acerca do Antigo Testamento:

Bibliografia

Aharoni, Yahanan; Avi-Yonah, Michael; Rainey, Anson F. e Safrai, Ze’ev. Atlas Bíblico. Casa Publicadora das Assembléias de Deus – CPAD, Rio de Janeiro, 1998,

Arnold, Bill T. e Beyer, Bryan E. Descobrindo o Antigo Testamento. Editora Cultura Cristã, São Paulo, 2001.

Bright, John. História de Israel. Paulus, São Paulo, 6ª Edição, 1980.  

Durant, Will. The History of Civilization Volume 1 – Our Oriental Herritage. Simon and Schuster, New York, 1963.
Heródoto de Halicarnassus. The Histories. Penguin Books Ldt, Middlisex, reprinted, 1986.

Hallo, William W. e Simpson, William Kelly. The Ancient Near East: A History. Nova York, Harcourt Brace Jovanovich, 1971.

Howard, Jr. David M. “Philistines” em People of the Old Testament World, org. Alfred Hoerth, Gerald L. Mattingly e Edwin M. Yamauchi. Baker Book House, Grand Rapids, 1994.

King, Philip J. American Archaeology in the Mideast: A History of the American Schools of Oriental Research. ASOR, Philadelphia, 1983.

Millard, Alan; Stanley, Brian e Wrigth, David. Atlas Vida Nova da Bíblia e História do Cristianismo. Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, São Paulo, reimpressão, 1998.

Schoville, Keith N. Biblical Arcaheology in Focus. Baker Book House, Grand Rapids, 1978.

Wilson, John A. The Culture of Ancient Egypt. Chicago University Press, Chicago, 1951.


__________Britannica Atlas. Encyclopaedia Britannica Inc., Chicago, 1996.

Enciclopédias

__________The New Encyclopaedia Brtannica. Encyclopaedia Britannica Inc., Chicago, 15th Edition, 1995.


Softwares

Ferreira, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio Século XXI. Edição Eletrônica, São Paulo, 2004.





[1] As Montanhas Zagros – Kuhhã Ye Zagros – estão localizadas no país moderno do Irã.

[2] O autor precisa advertir o leitor que a expressão hebraica vocalizada como יְהוָה – é uma combinação das consoantes do nome “ETERNO” representados pelo tetragrama YHVH com as vogais da expressão hebraica אֲדֹנָי Adonai – cujo significado é soberano, e que é comumente traduzida por “Senhor” nas Bíblias na versão de Almeida Revista e Atualizada - ARA.  A combinação das consoantes de uma palavra com as vogais de outra foi a responsável pela “invenção” deste curioso nome que encontramos disperso no meio da cristandade que pode ser grafado, entre outras, das seguintes maneiras: Jeová, Javé, Iavé, Iaweh, Iahveh etc. Esses nomes não existem e só podemos rir da ignorância daqueles que insistem em usá-los como se tivessem  realmente origem Bíblia.

[3] Para ajudar os leitores a reconhecerem os versículos onde o tetragrama יהוהYHVH – o ETERNO é usado no nosso texto em português, os tradutores da versão Almeida Revista e Atualizada – ARA – usam, de maneira consistente, a expressão “SENHOR” grafada com todos os caracteres maiúsculos. 

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